TUA OBRA, TUA CRIA
(Homenagem da poesia ao seu criador)
A que vieste, poeta,
criador de minhas rimas?
Lamentar-te por querer para mim
o espaço que mereço?
Desculpar-te por achares
que não deste, de ti, o melhor?
Chorar
por algo que pensas que perdi?
Condenar
os algozes que me sacrificaram?
Não espero de ti essa bravura
nem me macules
com tua própria desventura.
O que sou
senão o resultado mais puro
de todos os teus loucos sentimentos,
o corolário de cada um dos teus momentos,
a lágrima da prece
que ainda não fizeste,
o som do sorriso
que ainda não deste,
o auge do amor
que ainda não tocaste,
a alegria da vitória
de um sonho que ainda nem conquistaste?
O que sou
senão tua alma desnuda,
disfarçada no julgamento alheio,
o teu franco despudor
no juízo de ti mesmo,
a tua mais secreta vontade
de desmistificar o belo,
a tua lágrima de saudade
no mar de tuas venturas,
a tua mais preciosa arma
na espera do amanhã?
O que sou
senão o lilás que às vezes tinge teu céu,
a dama que encobres de véu
para admirá-la melhor
no amanhecer?
O que sou
senão
o teu renascer,
a tua alma nova, quimera,
tua eterna primavera?
Sou a marca fiel da tua lembrança
em todos os dias
que em que te cobres
da mais pura esperança.
És meu dono.
Eu, tua cria.
Insensatos, pois, são aqueles
que ousam separar-me de ti.