TUA OBRA, TUA CRIA

(Homenagem da poesia ao seu criador)

A que vieste, poeta,

criador de minhas rimas?

Lamentar-te por querer para mim

o espaço que mereço?

Desculpar-te por achares

que não deste, de ti, o melhor?

Chorar

por algo que pensas que perdi?

Condenar

os algozes que me sacrificaram?

Não espero de ti essa bravura

nem me macules

com tua própria desventura.

O que sou

senão o resultado mais puro

de todos os teus loucos sentimentos,

o corolário de cada um dos teus momentos,

a lágrima da prece

que ainda não fizeste,

o som do sorriso

que ainda não deste,

o auge do amor

que ainda não tocaste,

a alegria da vitória

de um sonho que ainda nem conquistaste?

O que sou

senão tua alma desnuda,

disfarçada no julgamento alheio,

o teu franco despudor

no juízo de ti mesmo,

a tua mais secreta vontade

de desmistificar o belo,

a tua lágrima de saudade

no mar de tuas venturas,

a tua mais preciosa arma

na espera do amanhã?

O que sou

senão o lilás que às vezes tinge teu céu,

a dama que encobres de véu

para admirá-la melhor

no amanhecer?

O que sou

senão

o teu renascer,

a tua alma nova, quimera,

tua eterna primavera?

Sou a marca fiel da tua lembrança

em todos os dias

que em que te cobres

da mais pura esperança.

És meu dono.

Eu, tua cria.

Insensatos, pois, são aqueles

que ousam separar-me de ti.

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 14/03/2006
Código do texto: T123277