Ode para centésimo quinto aniversário do Poetinha

Caro Vinicius,

estou a evocar seu nome em vão

desassossegando seu descanso eternal.

sua ausência me acarreta tanta sequidão

como cimento desperdiçado da obra

deixado ao tempo para endurecer.

Vinicius,

despedaçado

chora meu duro coração

vai trilhando sozinho

os caminhos do não

O fim chegou

junto ao inverno de 1980,

aquele eterno inverno…

Vinicius,

O ano que começa já chega na metade,

o peito se debate lembrando de ti

sua voz católica, nascente para

sonetos, métricas e poesias,

seu corpo pagão, refém das garotas

de Ipanema, Copacabana e Leblon

Marcos,

diplomata no nome e profissão

viajou pelo mundo

de terno e gravata

mas nunca de coração

voltou ao Brasil

do céu anil

vestiu o chinelo,

pegou o caderno,

foi ler os jornais,

O Rio alegrava-se

com o retorno de Moraes

Poetinha,

foi sempre assim,

dicotomia sem fim

ora vagava no mar da vida

escrevendo redondilhas

símbolos de erudição

outrara era tentado pelos

tambores dos Afros

instrumentos de perdição

Vinicius

não o conheci, é verdade

não o fiz meu amigo

não amei contigo

[Não se ama igual Vinicius!]

mas posso te levar comigo

num retrato escondido, que

neste entardecer de outono,

deixou-me amargo o coração.