A CANÇÃO DO VELHO NEGRO

Sei ... a maioria de vocês é branca.

Branca e jovem e sou negro e velho.

Vocês vivem e estão em primavera franca

E a minha jaz como o Sol a perder hélio.

Gostaria que entendessem isto: Lindo mundo!

Vivemos sim num mundo lindo, lindo.

Sei que houve sangue, mas pulsou segundo a segundo

Antes de ser derramado na arena com todos rindo.

Como velho que sou, canto e componho versos.

Sei que o Mal nos espreita e nos quer caídos ...

Mas, queridos, tudo rui se ruir a esperança,

Não deixe tal chama de amor no adverso

E que belezas, ternuras, sejam como nunca houvessem sido.

Beleza e Bem são consortes, ela canta e ele dança.

Sim, vocês podem ser arremessados ao redemoinho

E os braços se debaterão contra as coisas em curso,

Mas reparem o céu, não lhes parece belo belo ?

O fundo tenta sugar-nos e decepar-nos com ancinho,

Mas não é melhor esperar, deixar pulsar o pulso,

Entender que há cores como azul, lilás ou amarelo ?

Gostaria que compreendessem isso... e a vida, linda,

Vale mais do que supomos e agora quando a minha finda

Vejo-me aqui, a dizer-lhes que o mundo é ...

Que o mundo poderia ... tenhamos ... fé ...

Camilo Jose de Lima Cabral
Enviado por Camilo Jose de Lima Cabral em 13/01/2021
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