Maria Lua Lúcia

Louca, a mulher olha a lua.

Embevecida, hipnotizada, a alma nua

Viaja por galáxias distantes

relembrando (ou inventando) improváveis amantes.

Seu dualismo fantástico é tema

dos versos não escritos de invisível poema.

Define-se ao rasgar o espaço:

sua língua é ferina, é temperado aço e,

em seu hermetismo,

quando se ressente do inevitável mal,

mesmo escondida, chora sua alma de cristal.

Invejável amálgama: aço e cristal,

a velha dama pouco liga para a intriga

ri-se da ignorância que campeia.

Dê-lhe fósforos e a cidade se incendeia.

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Versos escritos para a última nobre de Ouro Fino. Maria Lúcia do Prado Rossi, legítima representante da legítima burguesia. Senhora de sua loucura, lúcida e sábia, máscara de crueldade que distribui benesses fingindo aplicar a chibata.