MONÓLOGO COM O ESPELHO

Se eu falasse com você

e você me respondesse,

eu não estaria feliz,

como outrora um dia quis,

porque suas palavras seriam

um eco concomitante de mim mesmo.

Se eu conhecesse você

e você me conhecesse de verdade,

seríamos amigos íntimos

com laços prístinos

e viveríamos duas dúvidas

de uma mesma alma.

Porque viver é duvidar

e não certeza.

E se agora eu o vejo

talvez não seja como desejo:

como saber, afinal,

se você reflete o Eu?

Se eu penso,

logo você existe:

porque somos um só

e juntos volveremos ao pó,

mas até lá a busca continua

porque a incógnita permanece em mim.

Porque se é mister

conhecer a si mesmo,

investigando seu reflexo

contextualizadamente sem nexo

(que sou eu do lado de cá)

penetrarei no que me é imane.

Se eu olhasse seus olhos

e cheirasse seu odor;

se saboreasse seu paladar,

se pudesse seu toque tocar,

se ouvisse mais o que você diz:

talvez eu o conhecesse melhor.

Porque o segredo de Ser

está oculto em mim

e você e eu somos unidos para sempre,

como alfa e ômega inerentes:

porque as respostas do reflexo no espelho

são incógnitas dentro de mim...

E, entretanto, tenho a certeza de sê-lo.

Elias Araujo
Enviado por Elias Araujo em 05/02/2011
Código do texto: T2774580