MONÓLOGO COM O ESPELHO
Se eu falasse com você
e você me respondesse,
eu não estaria feliz,
como outrora um dia quis,
porque suas palavras seriam
um eco concomitante de mim mesmo.
Se eu conhecesse você
e você me conhecesse de verdade,
seríamos amigos íntimos
com laços prístinos
e viveríamos duas dúvidas
de uma mesma alma.
Porque viver é duvidar
e não certeza.
E se agora eu o vejo
talvez não seja como desejo:
como saber, afinal,
se você reflete o Eu?
Se eu penso,
logo você existe:
porque somos um só
e juntos volveremos ao pó,
mas até lá a busca continua
porque a incógnita permanece em mim.
Porque se é mister
conhecer a si mesmo,
investigando seu reflexo
contextualizadamente sem nexo
(que sou eu do lado de cá)
penetrarei no que me é imane.
Se eu olhasse seus olhos
e cheirasse seu odor;
se saboreasse seu paladar,
se pudesse seu toque tocar,
se ouvisse mais o que você diz:
talvez eu o conhecesse melhor.
Porque o segredo de Ser
está oculto em mim
e você e eu somos unidos para sempre,
como alfa e ômega inerentes:
porque as respostas do reflexo no espelho
são incógnitas dentro de mim...
E, entretanto, tenho a certeza de sê-lo.