Alquimia

"As palavras, como imensas águias, voam

E às vezes pousam."

Também meus pensamentos voam

E te levam em suas invisíveis asas

Por todos os cantos da casa.

Tais as palavras, o amor

Por que não voar?

Todavia, é ser teimoso e quadrado

Dentre as paredes do peito vive agarrado

A um coração pusilânime e alquebrado,

Não voa, não voa.

Nem se aquieta,

Este ladrão inimputável

De minha paz plausível

De minha respiração rarefeita.

Por que o ser não tem o poder

De se transformar,

Ao invés de sonhador,

Assim tão adrede ao contexto poético?

N’um altivo lutador

Análogo ao do Drummond,

Que sempre era o vencedor

Na luta diária com o léxico?

Ou então em condor

Que, pelos quatro cantos, voa

E vive, a cada dia, mais completo,

Totalmente alheio ao amor.

Mas a gente corre, foge,

Pelas ruas, se dissolve;

Uma fuga em vão

Do contumaz inquilino.

Companheiro de sala,

De bar, do destino.

A não ser que se arranque o coração

Seu fiel e habitual fiador.

O amor é indissolúvel amálgama

Deste corpo já exaurido.

E eu, por que o não dissipo

E jogo no mar as chaves desta casa?

Ao contrário, nas marginais

Das iluminadas avenidas

Contando os autos velozes

Gasto noites veladas

De volupiosas vozes

Que passam por mim nestas horas tristíssimas.

Na vida, apenas pro nosso ego

Somos insubstituíveis e belos;

Às pessoas, vezes pouquíssimas.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 23/03/2006
Código do texto: T127393