COMPANHIA*
Meu par é o verso,
às vezes manso,
nem sempre canto.
Meu par é o vento.
Vem sempre forte,
nem sempre norte.
Meu par é a garganta,
nem sempre palavra,
às vezes choro.
Meu par é meu cansaço,
nem sempre gozo, nem
sempre perto.
Meu par é um deserto
de coisas tantas,
nem sempre santas,
nem sempre certas.
Meu par é o teu passo
longe, nem sempre fonte,
tal qual floresta.
Meu par é teu beijo estranho,
têm sempre um gosto,
que a boca empresta.
Meu par é tua fala mansa
que a brisa canta num
outro ouvido.
Meu par é tua mão
sem pressa, que gesta
planos em mim, fecundos...
Meu par é meu dialeto,
cantando mundos...