Retorno
Comporto-me, hoje, feito águas de rio sem margem
que invadem territórios estranhos;
descontrolado por sentimentos sem tamanhos
que os sábios denominam de alegria; os homens, de bobagem.
Vejo-me, no meio deste caudaloso rio,
por tamanha força de indomáveis correntezas, levado;
touxeste-me lúdicas emoções em que afogado
sinto-me, e morto quase, por um fio.
E este comportamento insólito,
é de teu regresso, decorrente.
Fizeste-me agora tão contente
que a mim não me contenho, hilário!
Tu és, a um só tempo,
deste lugar, o atavio;
quase sombra, um ícone fugidio
a transcender meu pensamento.
Agora que te tenho mui próximo a mim,
feito ininterrupto coito pagão, o regozijo
suplanta-me; corpo meu humílimo e exangue alijo,
resplandecem-se-me espírito e alma de querubim.
Coroado de saudade e amores,
meu coração recepciona-te ninfa dadivosa;
adorno-te de poesia e flores,
pois que minha boca exsicada, fez-me sem prosa.