Sinal dos Tempos?

Vivo como vivem todos os seres,

Momentos de tristezas

E momentos de prazeres.

Certamente amei, senti,

Conheci, abracei, consolei,

Critiquei, compreendi, errei,

Correspondi e chorei.

Mas sempre tive a felicidade

De ser aceito mais que enfrentado

De ser querido mais que desprezado

E de antes de me acusarem,

E sentar no lugar do réu,

Terem me interrogado.

Ó gentis almas dos que passaram

Agradeço-vos seu legado

E se hoje estranho ser interpelado,

Se me acusam mais que perguntam

Se me palpitam mais que escutam

Ou desconfiam mais que observam,

Que farei desses dias?

Mudarei para agradar a outrem?

Agirei como desejam que eu aja?

A quem pagará tributo minha verdade?

Ao que lê cuidadosamente a página

Que tantos leram e entenderam?

Ou àquele que tomado de impaciência

Arranca a folha, e a atira ao chão?

Quando todo o meu pranto se foi,

O que sobrou?

Respondo que minha verdade

Não tem recursos

Para pagar tributo a quem quer que seja

Que meu coração

É terreno aberto a quem gentil se chega

Mas é árido e sem trilhas

A quem traz armas e nariz erguido.

Porque é tão difícil entender

Que devagar é a lida do mundo

E meticuloso o ofício do artesão?

Porque tantos amam com tanto ardor

A verdade, a felicidade e o amor,

Mas ao vê-los, se rasgam, se apagam,

E não reconhecem neles sua cor?

E aquele amor tão arrogantemente cantado

Quando se veste de vida real é ignorado

Porque tem as vestes do dia-a-dia...

Ou anda nu, despido de qualquer fantasia.