MANTRA
Sua voz ecoa dentro de mim até hoje
apesar de não ouvi-la a tanto tempo.
Ainda sinto a dor das marcas que você deixou em mim com seus dentes;
ainda sinto o calor das suas pernas enroscadas nas minhas,
dos seus pés nos meus,
das sua mãos percorrendo meu corpo.
Escuto meu coração batendo descompassadamente
e eu às vezes me pego pensando: “por que não pára logo!”
e meu estômago revira
junto com as idéias na minha cabeça.
Seu nome já é um mantra
que se repete dentro de mim
desde a hora em que abro meus olhos
até a hora em que os fecho.
Mantra este que nada de bom vai me trazer,
pelo contrário,
só me traz sofrimento.
Só me trouxe sofrimento
desde que o escutei pela primeira vez.
Seu cheiro continua impregnando meus dias
seu sorriso aparece em tudo
e vejo seus olhos apertados se fechando
enquanto você ri.
Vejo também suas mãos, seus longos dedos e
suas unhas
enquanto olho as minhas.
Olha, meu bem
minhas veias altas.
Olha como me sinto
quando penso em você.
Não posso crer que tudo foi uma mentira.
Seus olhos fitando os meus daquele jeito
não podiam estar mentindo.
Seu corpo me dizia tantas coisas
me fazia tantas coisas.
Hoje o que a lembrança dele faz é me sentir enjoada,
ridícula,
estúpida.
Me vejo quebrando o vidro do ônibus,
socando minha cabeça
até fazer parar.
Até fazer parar a repetição enfadonha do seu nome.