A Fantasia do Mar

Não, eu não estarei longe.

Os quilômetros serão apenas quilômetros,

fantasia dos homens

que acreditam na distância.

Voarei por sobre as florestas,

flutuarei acima das montanhas,

vencerei altitudes

que não são mais que fantasias

dos homens que acreditam em separação.

Minha voz e o rumor do mar

formarão a homogeneidade

e falarei claro,

porque o ruído desconexo

é pura fantasia dos homens

que acreditam no som

indecifrável do oceano.

Estou chegando misturada

às ondas e ao sal

e envolverei seu corpo

e você saberá que sou eu,

pois a exigência

do real ser visível

é fantasia dos homens frios.

Esse afago nos cabelos e no rosto

pela brisa da noite

acredite,

são meus dedos acariciando você.

Tanto o rochedo ali adiante

como o vagalhão que sobre ele cai

são ambos, a força do querer,

teimosia para a fantasia

dos homens fracos.

Estarei no raio tímido do sol nascente,

serei o primeiro a chegar

e bater em seu rosto.

No poente triste

poderá ser vista uma lágrima caindo no mar

e suas mãos molhar.

Para a fantasia dos homens comuns

será a garoa do anoitecer.

No silêncio da noite,

o marulho distante.

Lá no alto a primeira estrela

que encontrar

acenará para você

pedindo que deixe abertas as cortinas

Pois em dado momento

descerá e será um vaga-lume

desejando entrar e dizer

“bom sono”.

Se o céu, de repente enegrecer,

e nuvens empanarem o firmamento,

os raios riscarem de amarelo o horizonte,

e o troar se fizer ouvir,

e rolar a chuva impetuosa,

pode crer,

será minha saudade pedindo que volte,

por não ter podido resistir tanto tempo

fingir ser natureza.

Para a fantasia dos homens simples

Terá sido mera tempestade de verão.

Não, mas tudo pode ser mudado se você quiser,

e ser visto sob o prisma da fantasia dos homens

e os quilômetros serão asfalto, terra e pedras,

de impossível transposição.

As montanhas serão obstáculos compactos e monstruosos.

O rumor do oceano, apenas a força da água a dizer balbúrdias.

As ondas, massas de água fria e salgada,

e o afago nos cabelos apenas a brisa anônima que vai e volta.

O rochedo e o vagalhão, simples acidentes da natureza.

E não chegará um raio de sol isolado

mas um feixe indecifrável.

O poente, apenas a marca do final de mais um dia.

A gota d’água será garoa, resultado de um fenômeno natural.

Não haverá primeira estrela a brilhar

mas milhões delas

entrelaçando seus raios.

E não haverá qualquer aceno.

As cortinas serão cerradas

pois não haverá um vaga-lume

mas vários deles, a pisca-piscarem mecanicamente

sem nada dizer,

e a fúria da natureza,

terá sido mesmo

mera tempestade de verão.