Do Amor e da Paixão II

O jogo sagrado da paixão

Me faz lembrar, em certa medida

Os sacrifícios a um deus pagão

De uma certa civilização perdida...

Que por isso mesmo se perdeu:

Esse deus faminto a cada momento,

Exigia imolado, um coração ao seu

Para aplacar seu feroz sentimento.

Mas e esse que nunca cessava?

E a fome, que não se extinguia?

Por mais que o povo chorava,

Por mais que de paixão sofria,

Mais o deus regozijava,

E mais sacrifício queria.

Insaciável, pois que nunca completo,

Era seu coração, que ansiava sempre mais

Desprezava as dádivas do amor, do afeto

E ofertava a vida às paixões mais mortais.

E um dia de tanto somente querer,

De tanto só perseguir, aprendeu:

Esse deus, em fogo pôs-se a consumir

E diferente da fênix, não renasceu

Pois que de tanta paixão em aberto,

De tanta sofreguidão e procura,

O que da cinza faz renascer, por certo

É o amor, que lhe traria a cura.