Repouso (para Fabíola)
Tenho de admitir certo encabular em mim:
Poeta, artista de palavras, diz-se, prestas e certeiras,
De súbito vendo-se alheio a exatidões,
Não só isso como envolto por uma turbulenta, truculenta inexatidão
Que me aperta os pulsos
Impedindo que os vocábulos, a priori prestos e certeiros,
Escorram para minha pena.
O Prazer entretanto - tão indefinido quanto intenso -
Que me anda preenchendo
É, desse todo de confusões,
O que mais se faz sentir em meu pensar
E em meu peito.
E está continuamente, em paradoxo ao que disse há pouco
Seguido de uma mansidão
De uma serenidade quase tão luzente
Quanto o motivo de todos esses ais - não de dor, suspiros -
Que é o que me sobra de certeza:
A incessante vontade de estar contigo.
Tua pele, meu lençol: toque que repousa o espírito...
Teu abraço, meu refúgio: porto em meio à ressaca brava...
Teus olhos, lunetas pro mar: vislumbro a imensidão...
O que há de repentino na tua importância para mim:
Uma surpresa boa, daquelas que se sabe, e se sorri.