FILIGRANAS DE AMOR

FILIGRANAS DE AMOR

Elizabeth Fonseca

Um olhar perdido sobre o tempo

No solilóquio do passado – medra.

Trama lenta nas fissuras da alma

Espaços esparsos, silêncio e pedra;

Templos bordados, cravejados de anjos.

Um eco etéreo... Harpas e espera.

Marca página em sutis filigranas...

Poema de Neruda fala de outono,

De folhas e fios desconhecidos

Numa “Elegia de Cádiz”, transpondo

Entre névoa ou traje de gala, a vida.

E o trem da Gare de Lyon alucina

Sonhos que movem o ferro à rosa.

O ontem tão longe revive Atenas,

Trigais nos campos revestidos de ouro.

Heróis de guerra coroados de louros.

Tudo paira no olhar do silêncio

Que perpetua Homero em “Ilíada”

Tão forte e lúdico no pensamento.

Na tela Monalisa, olhar de enigma,

Plasma o renascimento em Da Vinci.

Vem o gótico em relevos de rendas,

Filigranando em doce rococó.

Vai palhetando o tempo em lendas

Pincelando páginas de ouro em pó.

São marcas d’água, leves, folheadas,

Em translúcida viagem de sonhos,

De amores em páginas caladas

Em que o poema canta e soluça.

E o sol é o mesmo de eras passadas,

E o amor não cansa ao céu que se debruça.

Porque o amor atravessa o tempo

Numa voracidade... que não muda!

(do meu livro "Além da Janela")

Elizabeth Fonseca
Enviado por Elizabeth Fonseca em 22/05/2011
Código do texto: T2985309