FADO

Meu fado é escrever a vida,

enaltecendo o amor,

dando vivas à paz,

olvidando as diárias desditas

que perseguem quem faz

do seu caminho de luz

(sempre esquecendo a dor)

uma constante cruzada,

pugnando por esses valores,

tão caros mas já tão raros.

E no curso da jornada

(sorrindo a orelhas moucas)

sigo sempre com a razão,

pois a pequena semente

que planto com paixão

logo germinará,

libertando a doce fragrância

da pureza do sentir,

e indicando o rumo

(liberto nunca de espinhos)

que todos devemos seguir.

Mas se por um acaso,

ao fim dos meus dias chegar,

sem conseguir terminar

a busca, a romaria...

então não me buscais.

Sim, não me buscais

em igrejas ou funerais

ou numa campa qualquer,

pois decerto que estarei

ao lado do meu amor

(amparando sua dor?

Não, pois buscarei

que saiba que melhor estou,

pois a todos auxiliarei.)

Não sintam a minha falta!

Pois sempre que o Sol surgir

dos lados do horizonte,

assim eu despertarei,

vindo com o vento do monte...

oiçam a minha voz

no contínuo chilrear

com que os pássaros anunciam

a chegada doutro dia...

sintam o meu sorriso

surgindo sempre na crista

das ondas com que o mar anuncia

a beleza da nossa natureza...

e vejam em cada estrela

que no céu surge a brilhar,

a centelha que conheceram

de amor no meu olhar...

e antes que todos corram

por me querer encontrar,

olhem na vossa alma...

sintam o coração...

pois de guarda estarei.

Se anjo ou duende serei?

Talvez demónio ou rei?

Quiçá?

Apenas sei

que em mim vereis

o vosso guardião.

E nunca, agora ou então,

nunca em qualquer altura,

me procurem nesse lugar,

pois serei tudo e nada,

estarei em todo o local,

nunca nessa sepultura.

Sintra, 28/10/2006

António CastelBranco
Enviado por António CastelBranco em 07/12/2006
Código do texto: T312292