Da máscara

Quando ela cai a verdade vem à luz

a flor se abre

uma estrela brilha

o cachorro late

o sol ilumina

tudo muda.

Muda porque caiu

é a máscara que cai

essa antes pacífica cara

paciente mordedora

algoz estúpida e despudorada.

Dificilmente sabe-se quem está por trás dela

não por acaso aterroriza a vítima

o inocente ela mata

tira o sossego do ingênuo

esbofeteia o amor

trai a amizade.

É o crime perfeito.

esta fantástica construção humana

sem eira nem beira

sem fundo, complexidades e constrangimentos.

Mas ela é medrosa quando cai

contudo é potente quando na face ainda resiste.

Dois corpos se separam quando do perfil ela se desprende

história construída por anos se esvai

tempos se perdem

segredos são jogados ao chão

cumplicidades são destruídas

afetos são rasgados

lágrimas e tudo terminam em pó.

A máscara é o lamento da mentira

a materialização da maldade

a fortaleza que assassina a dignidade do outro.

Não tem a capacidade do choro

e se embeleza ao mudar de flores, cores, amores

chegando mesmo a se alimentar da desgraça alheia revelando a predadora que é.

A máscara sempre sorri ao final

ela brinca no carnaval

se despe em amor eterno

se sustenta como a tela de um grande pintor

é clássica e moderna

mesmo cansada e caída ela se vai

de fininho sem remorso

foge descansadamente para o abrigo da irresponsabilidade

ainda insensata como o peru bêbado

e ri aos quatro cantos diante do espelho que outrora parecia ser seu.