Pingos de chuva Salva(dor)

Naquela chuva forte de verão

molhando o seu perfil de estrela na terra da abolição

a vida em plenitude apareceu em ebulição.

Os cabelos, véu do rosto, soltaram-se como canção

percebi minha “Matrix” com exatidão

o mundo era confraternização.

As armas foram jogadas ao chão e, após a ditadura

o fogo apagado por sua ternura

trouxe-me de volta da sepultura

e compreendi o belo e toda sua aventura.

Na negra que passou a sambar estava o seu andar

vi nas igrejas em barroco o seu corpo a brilhar

no mar a Iemanjá flutuar

e minhas lágrimas de sol se foram pelo ar.

A morte que palitava os dentes saiu de perto.

Em espírito fiquei como louco liberto

A língua histérica saiu do caminho incerto

Sua voz - tal como o pai de santo - acalmou o espírito aberto

Caído em seu seio esqueci o vazio que tinha por certo

e novamente lembrei-me da chuva boquiaberto.

E no beijo molhado

(des)amparado e paralisado.

Anjos de uma constelação

retiraram minha ação

desacorrentaram meu coração

acabou-se minha razão

e como São Francisco tornei-me emoção

e sua boca uma eterna oração.