Decepção
Tal qual Hiroshima...
Eu guardei também o meu relógio...
Ele parou no exato momento em que
você partiu...
Era uma tarde-noite cinzenta, de um
inverno rigoroso e triste...
Estático e sem esboçar sequer
uma ação, fiquei buscando entender o
que acabava de ouvir...
"O poema que leste, não foi pensando
em ti que escrevi..."
Num ser, completamente atônito e
difuso, me transformei...
Até hoje sofro a dor aguda que suas
palavras, qual adaga oriental de duplo
corte, feriram meu coração...
E de lá para cá, tal qual o urutau, raras
vezes cantei... e nas poucas que tentei,
meu trinar foi triste...
A solidão passou a ser o cobertor, que
me aqueceu naquele e nos outros
invernos que se sucederam...
Minha poesia foi embora...
Meu mundo se estreitou em demasia...
Em ermitão me transformei...
E tudo... tudo de ruim me aconteceu...
Só porque...
só porque você não mais está comigo...