Triste Sorte
Triste sorte
Quando Deus ao mundo me deitou
Logo me formou o meu destino,
Desde a idade de menino
Até à idade em que eu estou.
Nada mais me custou
Que foi agora tão de repente,
Por parte de um parente,
Eu, tal coisa não esperava,
Até o povo se admirava
De ver o teu portamento,
És doida como o vento
E não o podes negar,
Eu tenho fé em Deus
Que ainda mo há-des vir a pagar,
Triste foi o meu nascer,
Triste foi o meu passar.
Essa criatura foi Aninha,
Triste sorte a minha,
Pouca ventura que eu poderia ter,
Melhor me fora morrer,
Sofrer a negra morte
De que ter tão desgraçada sorte
De tal coisa me acontecer,
Isto quem houvera de viver
Há-de ter que contar
Pelo seu muito escolher
E pelo seu pouco acertar,
Se um dia a vejo chorar,
Depois de estar casada,
Por ser mal estimada
De seu marido
Por não tomar sentido.
Francis Raposo Ferreira