desculpa

desculpa, pelas vezes que eu fui errado.

(não pelo céu sem estrelas,

por bem maior pecado.)

desculpa o meu tolo lograr, o meu dolo,

o pensar como um deus sem remédio:

um deus sífilis,

cólera, angústia...

desculpa fazer-te chorar se não era tua culpa...

se nunca houvesse culpa,

só logro e irrazão. desculpa, mesmo que não haja perdão,

mas desculpa.

serenamente, quando a noite cai...

desculpa, por pensares ainda hoje me amar.

nem um momento mais,

mas agora.

exatamente agora.

a vida é uma roda d’água sem trégua, um vento mais forte que o ar.

um momento indefinido.

desculpa, pelo brado indevido,

pelo grito absurdo,

por te assustar de noite, à meia-noite, às seis da manhã...

na verdade, agora não vivo pela minha multa,

a culpa é sempre nossa,

- eu preciso entender.

me desculpa por a noite doer.

por a fadiga te cansar. por o sol te derreter.

me desculpa, por nada

fazer.

nada.

contra as nuvens e as trevas...

- não sei mais entender de trevas.

não sou mais poeta, sou só construtor.

eu sei contar manhãs e tardes

como um contador

de estrelas

e não sei regrar o caminho, como um sozinho,

um sozinho -

que eu não sou mais.

desculpa pela culpa de te culpar.

pela bruta e imensa capacidade de magoar. de ser grosseiro.

de não demonstrar gostar,

ou não saber.

desculpa por tanto ter que me arrepender.

pela dificuldade que eu imponho à minha vida. por meu desespero.

desculpa. desculpa.

desculpa,

pelo simples motivo de nada mais saber falar,

pelo seguir sempre sem jamais acertar.