Canto para meu amor (Feito com base em Canto para minha morte, de Raul Seixas)

Eu sei que determinada pessoa que já amei

Eu não tornarei a amar

Eu tenho um caderno

Que guardo há muitos anos

E que sempre eu vou ver.

Cada vez que eu conheço uma pessoa

Pode ser que esta pessoa

Não esteja me vendo

Só pela primeira vez.

O amor, cego, caminha a meu lado

E eu não sei em que esquina

Ele vai me deixar

Com que face ele virá?

Será que vai me deixar acabar o que tenho a fazer?

Ou será que ele vai me pegar

No meio do copo de champagne?

Na poesia que deixei para compor amanhã?

Será que vai me deixar apagar o cigarro no cinzeiro

Virá junto com a mulher

A mulher que não me foi destinada

E não está me esperando

Em lugar algum, embora eu a conheça?

Vou te encontrar, vestido de cetim

Pois em qualquer lugar

Esperas só por mim

E no teu beijo provar o gosto nobre

Que eu quero e não desejo

Mas tenho que encontrar

Vem, mas não demore a chegar

Eu te amo e te odeio, amor, amor, amor,

Que talvez seja o segredo desta vida!

Qual será a forma do meu amor?

Uma das tantas coisas que não escolhi na vida

Existem tantas

Um beijo acidental, o coração que acelera

No primeiro olhar, a vida mal vivida,

A ferida mal curada, a dor já envelhecida,

O ódio já espalhado e ainda escondido

Ou até quem sabe... Uma trombada ocasional

No corredor da escola, num dia apressado

Os cadernos ao chão...

Ah, amor! Tu que és tão grande

Que atinges o gato, o rato e o homem

Dispa-se da tua mais bela roupa

Quando vieres me buscar

Que meu coração seja amado

E que meus versos alimentem a poesia

E que a poesia alimente outro coração

Como o meu

Porque eu continuarei nesse coração

Para os meus filhos, na palavra doce

Que eu disse a alguém que eu amava

E até no champagne

Que eu terminei de beber

Aquela noite, naquele quarto...

Cícero – 01-07-94

Cícero Carlos Lopes
Enviado por Cícero Carlos Lopes em 28/04/2013
Código do texto: T4264158
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