A CASA
Chegou o momento de partir
o lar em dois.
Bem:
Comecemos pelos rincões onde as aranhas
teceram também sua história.
Falemos das paredes e seus retratos.
Qual escolhes?
O do dia das bodas,
o retrato da menina,
ou o das férias no verão?
Quero o antigo aparador
para recordar as refeições familiares.
Olha a casa:
permanece aí
de pé
sem alma porém.
Com qual alcova desejas ficar?
Aquela onde os gemidos
foram algumas vezes música perfeita?
Ou o quarto azul
onde a cama lançou raízes para sempre?
Ou o jardim
onde os sorrisos ainda se balançam?
Desejo a varanda,
essa plataforma vermelha de minúsculos ladrilhos
onde chuvas e pombas encontram seu refúgio,
onde ainda transpiram as estrelas
e não há sombra que oculte as traições.
Brindo-te com os espelhos
saturados de sussurros,
ecos familiares, rostos desfigurados
hoje se esvaindo em lamentos.
Mas tens razão:
talvez aqui já nada nos retenha.
Chegamos talvez à fronteira
entre o amor que titubeia e as cinzas.
Pensando bem
não posso partir em duas a casa.
Ela é inteira tua
e as promessas de sublimes futuros.
Como velhas cortinas
presenteio-te o que fica:
o céu sombrio
e este vento desenredado
que deixaste ao fechar a porta principal.
Lina Zerón
Traducción: Eliane Fonseca