A CASA

Chegou o momento de partir

o lar em dois.

Bem:

Comecemos pelos rincões onde as aranhas

teceram também sua história.

Falemos das paredes e seus retratos.

Qual escolhes?

O do dia das bodas,

o retrato da menina,

ou o das férias no verão?

Quero o antigo aparador

para recordar as refeições familiares.

Olha a casa:

permanece aí

de pé

sem alma porém.

Com qual alcova desejas ficar?

Aquela onde os gemidos

foram algumas vezes música perfeita?

Ou o quarto azul

onde a cama lançou raízes para sempre?

Ou o jardim

onde os sorrisos ainda se balançam?

Desejo a varanda,

essa plataforma vermelha de minúsculos ladrilhos

onde chuvas e pombas encontram seu refúgio,

onde ainda transpiram as estrelas

e não há sombra que oculte as traições.

Brindo-te com os espelhos

saturados de sussurros,

ecos familiares, rostos desfigurados

hoje se esvaindo em lamentos.

Mas tens razão:

talvez aqui já nada nos retenha.

Chegamos talvez à fronteira

entre o amor que titubeia e as cinzas.

Pensando bem

não posso partir em duas a casa.

Ela é inteira tua

e as promessas de sublimes futuros.

Como velhas cortinas

presenteio-te o que fica:

o céu sombrio

e este vento desenredado

que deixaste ao fechar a porta principal.

Lina Zerón

Traducción: Eliane Fonseca

Zerón
Enviado por Zerón em 18/08/2005
Reeditado em 18/08/2005
Código do texto: T43447