Agora que...

Agora que nos beijamos lentamente,

Agora que aprendo danças de salão,

Agora que uma pensão é um palácio

Onde nunca falta espaço para um coração...

Agora que as floristas me cumprimentam,

Agora que me formei em luta livre,

Agora que te desnudo e me desnudas

E na estação das duvidas morre um trem nas proximidades.

Agora que ficamos na cama segunda,terça e feriados prolongados,

Agora que não me lembro do pijama,

Nem resolvo o crucigrama, nem me mato se te vais

Agora que tenho uma alma que não tinha,

Agora que soam palmas de alegria,

Agora que nada é sagrado

Nem sobre molhado chove ainda

Agora que fazemos ondas só pra incomodar

Agora que esta tão sozinha a solidão

agora que todos os contos parecem o conto de nunca começar.

Agora que pomos outra que se deve,

Agora que o mundo esta recém pintado,

Agora que as tormentas são tão breves,

E os dolos não se atrevem a doer-nos demasiado,

Agora que esta tão longe o esquecimento,

Agora que me perfumo cada dia,

Agora que sem saber, aprendemos a nos querer,

como é devido sem querer-nos ainda.

Agora que se atropelam as semanas, fugazes como estrelas de Bagdá,

Agora que quase sempre tenho vontade de subir na tua janela e tirar a mascara.

Agora que os sentidos sentem sem medo,

Agora que me despeço mas fico,

Agora que tocam os olhos, que olham as bocas, que gritam os dedos.

Agora que não há vacinas nem epidemias.

Agora que a policia esta na lua

Agora que explodem os carros, que sonho a noite, que durmo de dia.

Agora que não te escrevo quando me vou,

Agora que estou mais vivo do que estou,

Agora que nada é urgente, que tudo é presente, que tem pão pra hoje,

Agora que não te peço o que me das

Agora que não me comparo com os demais

Agora que todos os contos parecem o conto de nunca começar...