DO AMOR E OUTRAS DORES

Eu te amo como se sentisse frio e calor, como se ao apagar da vela consumindo a estaria, caído no rio não me afogasse e de braçada em braçada buscasse uma margem do outro lado do sol se pondo, como se voasse de pés no chão, cabeça de vento tocasse um batuque caboclo, como se espetasse nos dedos agulhas e risse da dor, apertasse os punhos e escalasse uma montanha gelada, te amo sem qualquer valor a ouro, com tais medidas que pagaria ao andarilho do meu salário todo e dividiria meu melhor vinho e juntos na próxima estrada cheia de milhares de pequenos pedaços de vidro continuaria a contar-lhe das desventuras de te amar porque não te amo só com o coração, amo com o corpo, amo tuas formas, o colorido dos teus olhos negros, a meia parte de tua meia volta, quando tu sorris nos trejeitos de tua boca e os lábios de borboleta voando, teus pés de anjo sapateado, anjo dançarino bailando as estrelas que volteiam teu nome, quase sagrado mais profano, pura carne, os círculos brilhantes ostentados pela rainha da simplicidade e a voz de querubim narciso, os olhos de placas espelhadas, o bamboleado imprudente do teu passo e eu atrás contemplando o paraíso proibido, teus braços abertos em laços, laços imprudentes que desbravaria então se não fossem os rios que nado, as bochechas que mais mostram do teu riso, aquele carente de alegria, aquele riso maquinado no espelho que te vês com pouco precisão, entre os espaços que te resta durante o caminhar, as costas largas de trabalhar e a madura fruta toda ali qual inefável e indistinto produto de uma lógica passageira e determinada que se determina entre milhares de conjecturações, todas desparecidas e ilógicas, só corpo e resultado, punção e sensação, grito e raiva, o peito aberto e grande e as mãos que brincam entre si, o beijo doce de outras descrições, o jeito como tu quando com raiva ou cansada contrai todo o rosto e deixa a sensação fluir nos teus olhos e a luz vai desaparecendo como carmim desbotado, como flor sem água, e eu te amo muito mais que isso porque amo teu jeito de lidar com os peixes, a maneira pela qual surpreende quem te conhece com um novo que guarda feito uma pérola na concha de tuas próprias lembranças pois ao te conhecer, quer-te conhecer ainda mais, e quer-te assim em todo mundo e muitos podem te amar mas ninguém será como eu pois sou único e te amo deste jeito porém não quero te amar, é doloroso demais...

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 22/12/2013
Código do texto: T4621650
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