O que acontece comigo

As palavras, sempre elas me cobrando explicações

explanações, dissertações sobre o que acontece

ora aqui dentro, ora lá fora

mas contigo por perto eu sinto

não precisar mais delas

pois eu as materializo e sendo

assim já não vejo qualquer necessidade

de explicações, desenhos ou

manuais informativos

com você está tudo implícito

nos meus olhos de olhos nos seus

escancarado, explícito

eu as uso como mero complemento

um afago, um carinho certo

uma cereja nesse bolo

de sentimentos, mera dica do que eu quero

fazer com você quando não houver

ninguém por perto.

meu poeta maldito interior descansa

quando repouso nos seus braços

e tem sonhos coloridos de criança

quando estamos seguros em nosso abraço

nosso pequeno universo paralelo,

particular.

Quando não me faz falta um trago de vinho

nem a cantoria com os amigos, a brisa boa da rua

todos os vícios perdem o sentido quando

você está perto o bastante para que

eu possa sentir você respirar.

E quando é assim eu posso tudo

degustar as cores, ouvir as imagens

e sentir o universo pulsar no espaço

onde termina eu e começa você

e onde estamos a sós, longe do barulho

no sublime silêncio de nós.

Invento um dia a mais no fim de semana

para que acredites que ainda temos tempo

para transver as coisas do nosso jeito.

Mas o mundo gira e te leva

dentro de um ônibus e me deixa congelado

no ponto, observando a pista

com um nó do tamanho de uma

laranja na garganta.

Então as palavras me cobram, o poeta maldito

acorda para sua atividade eternamente ingrata

de tentar explicar o que acontece comigo

quando eu te perco de vista.