Sem título II

I

A solidão abraça-me, num dia aprazível,

Aperta-me a mão, beija-me os lábios,

Conhece o meu pensamento,

Sossegado e constante…

Num só instante, abraço-a com força.

De seguida, afasto-a, com temor…

O sigilo que abrigo martiriza-me,

Repele-me do mundo, de qualquer afecção verdadeira.

Finjo, sabendo que não posso mais.

Não admito, porque sei que posso falhar.

Abraço, novamente, a solidão,

A chorar, a rogar que não me desampare,

Porque é o único sentimento vivo que me resta.

Conto-lhe, em murmúrio,

Que não percebo o mundo que me rodeia,

Que não entendo porque todos se distanciam de mim,

Porque todos reconhecem que sou admirável

E não conseguem sentir mais do que ternura ou pena…

Pergunto-lhe: “Porquê?”

Mantém-se em silêncio, com uma expressão descontente,

Mas com um fulgor nos olhos, por saber que estou a seu lado.

II

Nem sequer compreendo porque magoa…

É tão bom ser assim…

Deleita-me poder fumar um cigarro,

À janela, a escrever poesia,

Sem horas para descansar ou para pensar.

É bom saber que sou livre para voar dentro de mim,

Para vaguear pelo mundo imundo, destruído pelas pessoas,

Mas ao qual tanto tenho para dar.

É difícil compreender a dor,

Porque existe, porque assim se manifesta.

É difícil compreender porque a dor

Parece maior que a felicidade

Talvez seja porque esta é efémera,

Ao contrário do sofrimento, que corrói a alma,

Durante tempo que parece ser a eternidade.

27 de Maio de 2007