Dois parágrafos de Perdição

O que é este choque que perpassa meu corpo, não é amor, não é paixão, é desejo e ilusão, é a própria perdição por toda vez que te vejo e percebo no óbvio dos teus gracejos a maior contradição, é que sigo seus trejeitos com uma febre anormal, conto cada fio que voa dos teus cabelos, do que dizes da primeira nota até o sussurro mais gutural, se te apanho um sorriso distraído é como o povir pois logo sorris para todos menos pra mim, que me escondo no livro ou no copo d’água escapando do teu rosto qual a palha da brasa, vês que é fogo na folha seca e no outono destes meus dias queimaria em toda parte até o que não vejo;

é que não desejo este desejo, ou sendo claro, me protejo ao que conheço toda profundidade do impulso que recebo, me calo à não falar demais, contraio tais palavras que penso, entretanto, desde seu nascimento ao presente momento quanto mais me guardo: desapareço e um silêncio enorme faz vir teu nome exato, fecho os olhos em fuga, na escuridão aguda um reflexo se forma, com a lentidão da obra perfeita, a silhueta, fio por fio de cabelo, os ombros cálidos e polidos, na eterna brevidade do devaneio sinto até o toque macio das mãos entre meus dedos, perenes e mudos, qual se passasse sem turbilhonar a água de um rio em curso, já perorando as linhas da tua face, formando sua boca e o sorriso de revelar mistério confesso, peco à proibição: tua imagem faz-se cinética, curvando-se, abraçando, derramando-se em mil direções onde se distingui feroz a dança de um beijo e você entre braços voluptuosos que te juro nem me atrevo a imaginá-los meus...

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 22/08/2017
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