A paz

Vou percorrendo a distancia do caminho,

Com os dedos,

A rebelar-te em verso, desde que a tenho escrito.

Devo soltá-la no reverso das ondas ,

Ou cavalgar nas tuas costas de embarcação pacífica,

Como se tu fosses um corcel proscrito,

Branco como é o rastro da tua espuma,

Até romper horizonte na ausência da minha chama...

Devo sorvê-la ou lhe recordar,

Em verso que escrevo deitado em minha cama?

Somos trilhas de rabiscos humanos em pergaminhos,

Devo segui-la entre o alvoroço

E o torvelinho das tempestades,

Com a lembrança compartilhada das pedras pelo caminho,

No encontro das tuas costas nuas,

Que me servem de inspiração.

Faço-te carinho,

hibrido ser, que pernoita em minhas profundezas,

Com poesias de papéis trocados, sozinhos, nus,

Versos que dão a mim

o prazer de lhe abrigar na minha tristeza,

E almejar a saudade, enquanto muda e calada,

Encontra em meus dedos parcos,

Os sombreados da lua,

Como barcos tristes delineados,

a percorrer o traçado na tua pele...

Entre o mar revolto e barracudas famintas,

Um peixe-lua vem brilhar no teu pensamento tatuado,

Tua tez de marinheiro embarcado balança frente a baía,

Tomando o rumo dos cabelos que voam,

Lambendo a brisa morna e tardia,

Enquanto o oceano dorme,

Na transparência turquesa dos mares,

Envolvendo-se como ondas no sopro de tua beleza,

Devolvendo à vela uma sedenta paixão de navegar,

Trazendo-te para dentro de mim...

É chegado o dia, enfim, de me soltar,

Vou deixar me levar na plenitude de seus ensejos,

Beijar os picos dos teus seios,

O umbigo do seu mar,

E a alma que tivesse piedade de me libertar do voo...

Sou uma serpente marinha,

Ou um albatroz,

A cruzar o oceano trazendo nas asas

a poeira pisada nas tábuas do cais,

Onde a areia soprada em teu vento feriu meus olhos,

E a mágoa, é a vela soprada ao vento,

Enxaguando o mar, tirando do pranto o doce da água,

Que tu vem marejar, pura, no meu peito,

Como se fosse a jura de amor do teu sal depois de colhido,

Posto a secar perdido na exultação,

De que hoje, tolhido em meu coração, sempre fostes o mar,

Junto da tempestade que me tem vencido.

https://www.youtube.com/watch?v=zMiTJo5PJ3k

Perceba... Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos e morremos sozinhos. Solitude é nossa própria natureza, mas não estamos conscientes disso. E por não estarmos conscientes disso, em lugar de ver nossa solitude como uma tremenda beleza e êxtase, silêncio e paz; um estar à vontade com a existência... Nós a confundimos com solidão.

A solitude é uma presença, uma presença transbordante. Você está tão pleno de presença que você pode preencher todo o universo com ela, e não há necessidade de alguém mais. O que é necessário não é algo para que você possa esquecer sua solidão. O que é necessário é que você se torne consciente de sua solitude – a qual é uma realidade.

Você não ama sua mulher, está simplesmente usando-a para não estar só. Nem ela também o ama, pois está sob a mesma paranoia; ela está lhe usando para não se sentir sozinha. Tudo em nome do amor.

Todo mundo foge correndo da solidão. Ela é como uma ferida, dói.

Originalmente as pessoas não ficam felizes quando sozinhas. Elas se sentem muito vazias, acham que alguma coisa está faltando. Não podem viver sozinhas por muito tempo – elas buscam um relacionamento. Dessa forma o relacionamento é somente uma fuga de si mesmo.

Existem apenas dois tipos de pessoas: aquelas que fogem de sua solidão – a maioria, 99,99% das pessoas fogem de si mesmas; e o restante – 0,01% são os meditadores, que dizem: “Se a solidão é uma verdade, então é uma verdade; portanto não faz sentido fugir dela. É melhor penetrar nela, encontra-la, encará-la como ela é”.

Osho diz:

Milhões de pessoas continuam mantendo seus relacionamentos mesmo que sejam simplesmente um inferno! Apenas devido ao medo de que serão abandonadas sozinhas; eles continuam apegados.

É uma miséria, um grande sofrimento, é uma tortura, mas ao menos alguém lhe faz companhia. Em comparação com ser deixado só, é melhor ser miserável, mas estar com alguém.

Essa é uma das razões porque milhões de pessoas prosseguem sofrendo e ainda assim se apegam aos mesmos relacionamentos - os quais não dão a eles nenhum conforto. Mas que são simplesmente destrutivos.

Somente o homem ou mulher que seja capaz de estar sozinho, também é capaz de se relacionar sem ser destruído por isso, pois estar sozinho não é mais um medo. Se algum relacionamento gera miséria, você simplesmente sai fora dele - ninguém pode lhe impedir.

É uma situação bem patética que milhões de pessoas estejam apegadas uns aos outros, simplesmente devido ao medo de que sejam abandonados e deixados sozinhos.

E estar só é a nossa natureza; não há nada a temer, você só precisa experienciar isso.

Uma vez que você experiencia no seu profundo silêncio do coração a beleza de sua solitude, o êxtase de sua solitude, todo medo desaparece, e você rirá de seu passado, de quão estúpido você foi e o que você tem feito consigo mesmo.