Mulata ( Pô , mãe )

Vou namorar a moça da favela e dispensar a ricaça

Mãe , grite a vontade , não me incomodo , você já não manda em mim

Só quer que o jogo mude e ganhar um sustento , ser recompensada por todos esses anos

A parada não é bem assim

Me entrego sem despudor àquela mulata , que me arranca o coro , eu volto moreno

Seu batom dançou sob minha pele , se eternizando em meu corpo

Mãe , não adianta reclamar , não bebi cerveja ou me droguei , é só a paixão

Que invade a alma do indivíduo , o colorindo como um arco-íris , ignorando a chuva passageira

O céu está de ressaca , e está chorando , arrependido de dormir com as estrelas

Ah , se aquela mulata soubesse que ela é o meu céu , ressaca , estrelas

Mãe , não digo isso para ficar irritada , somos ricos , ela pobre , o que há de errado em almas incolores se pintarem , formando um Big-Bang ?

Acho que vou pedir sua mão , na calçada , restaurante , em cima de um balcão , mãe , não fique brava

Não estou te provocando , apenas estou me entregando à ideia de se entregar para alguém

O amor nascerá , um sapatinho azul ou rosa , está a caminho

A mulata desfila de véu e grinalda , eu a observo chorando nos dentes com um sorriso esbranquiçado

Vieram seus amigos , irmãos , só faltou você , mãe

A mulata me olha , eu a olho , sorrisos nas lágrimas

Que passeiam em nossas bochechas , se buscando uma na outra , querendo se beijar

Eu coloco a aliança na mulata , uma bala nada doce é dada para a cabeça da minha mulata , e ela brinca de Bela Adormecida em meus braços

Eu olho pra onde foi dada a bala , e vejo você dizendo " Foi para o seu bem "

Pô , mãe , seu neto estava na barriga da mulata , e agora o bebê hiberna para todo sempre

E o que era pra ser um casamento , se torna um funeral , onde o enterro são meus braços