Carnaval
Deixa a janela aberta
A brisa fria da madrugada entrar
Deixe que beije a nossa pele
A fina camada de suor
Como toca o orvalho sobre as folhas
Lá fora
A música na rua ainda toca
Por toda a Boa Vista
Um ritmo vicioso de décadas atrás
São 4:42, o relógio da parede denuncia
Os outros logo vão acordar
E sabe-se lá com que cara
Descobrir o que a gente fez
Eu devia levantar
Assim como o sol se levanta
no nascimento da manhã
Tomar banho no meu quarto
E relutante
Lavar do meu corpo as lembranças do seu
Você me segura apertado
Ainda há um toque de cerveja no ar que escapa
Pelo espaço estreito entre os seus lábios rosados
Quando sussurra sonolento e sem graça:
"É terça de carnaval, ninguém acorda cedo num ferido desses."
E com um roçar doce de dedos curiosos
Explorando pele e ascendendo fogo
Pede para que eu continue em seu abraço
Com o eco da noite me mantendo acordado
Trazendo ao rosto um sorriso satisfeito e cansado
Que nenhum bloco foi capaz de me dar.
~Guilherme le Fay