Negrinha
Nas ancas
daquelas negrinhas
o pavor do patrão
que as via
esculturas escuras
de pecado
ninguém pode conter
o desejo de quem é amado
ninguém pode vender
o que já por mim foi comprado
eu tinha direito
e eu era de seu agrado
e ela tinha medo
de que eu achasse culpado
Ela era morena
amada pelo mulato
O cheiro negro do rosto
que se afetuava em meu gosto
no meio dos meus rebanhos
eu a cobria de sonhos
que nós não iriamos realizar
ela sabia mentir
mas não sabia chorar
ela queria viver
e eu só queria amar
um amor que a sinhá sonhava
enquanto meu sonho cansava
a beleza levemente dourada
ao suor que ela estava banhada
que banhava meus sonhos também
Durante os dias eu a fitava
batendo roupa
anjo que eu não amava
mas me interessava a boca
No meio de seu asco
tu te encosta em meu braço
e me pede te fazer sorrir
mas o destino não sou eu quem faço
e não me atrevo a mentir
uns nascem pra viver
outros pra morrer
por ti