Negrinha

Nas ancas

daquelas negrinhas

o pavor do patrão

que as via

esculturas escuras

de pecado

ninguém pode conter

o desejo de quem é amado

ninguém pode vender

o que já por mim foi comprado

eu tinha direito

e eu era de seu agrado

e ela tinha medo

de que eu achasse culpado

Ela era morena

amada pelo mulato

O cheiro negro do rosto

que se afetuava em meu gosto

no meio dos meus rebanhos

eu a cobria de sonhos

que nós não iriamos realizar

ela sabia mentir

mas não sabia chorar

ela queria viver

e eu só queria amar

um amor que a sinhá sonhava

enquanto meu sonho cansava

a beleza levemente dourada

ao suor que ela estava banhada

que banhava meus sonhos também

Durante os dias eu a fitava

batendo roupa

anjo que eu não amava

mas me interessava a boca

No meio de seu asco

tu te encosta em meu braço

e me pede te fazer sorrir

mas o destino não sou eu quem faço

e não me atrevo a mentir

uns nascem pra viver

outros pra morrer

por ti

Camila BV
Enviado por Camila BV em 30/10/2005
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