Pérola

...chama-me o ar, lua de transparência âmbar,

A trair-me desejoso de inspirar.

Preciso saber como tu eras,

Pois, quero respirar e não consigo;

Tiraste-me as respostas

ponderadas em caprichosas estrelas,

Aldebarã, Vênus, Polar...

Ei-las a me encantar com seus pensamentos,

e tormentos que em minha mão se implantam,

Querendo conspirar ,

Com o céu refletido em seus olhos;

És a segunda metade do que sinto,

Completa-me, brilhando em perfeita constelação.

Sendo a fruta madura,a alma do seu desejo,

E o meu devaneio um breve rufar de asas,

Como o simples pestanejar ;

Assim, dá-me febre conceituando o dançar do peito,

Inventando um buquê de flores

dentro de nossos sonhos,

Para te ofertar num passeio,

Deliciado na tarde quente, teimando em ruir,

Pela delicadeza insistente das horas;

Atravessando pontes

das quais nunca mais voltaremos;

E por amor, deixar-nos-emos fluir,

Perpetuando o bravio perfume

de nuvens em disparada...

Caem de ti, minha amada, gotas como se fora a chuva,

Entregue às lagrimas do fim de uma tarde

aberta à beleza de lhes contemplar.

Encharcadas, as estrelas fugidias movem-se,

Na correnteza do rio doce

a espelhar a chegada do outono.

Não sou mais meu,

Nenhum frio sentimento abriu-me

Nem amadureceu no coração que agora é teu...

Em tua mão eloquente de ramos finos e almejados,

Está algemada ao braço delgado,

Carregando uma adaga fria e destemperada,

Mutilando minha poesia.

Tu, raiz da minha liberdade,

amorna a tristeza com a vontade de viver,

E nela abre-se como flor de sangue e fogo,

Pulsando na passagem de festa;

Pelo teu olhar, posto a arder...

Esse olhar bonito,

Que acalma o infinito da minha alma,

Alma plana como teu navegar,

Plana como são as faces do lago,

Na quietude amarelada e rejuvenescida de um amor,

Perdido na eternidade do peito;

Que importância já não dá a saudade,

Ponderando ainda sobre aquela pergunta,

Pois, se o sonho tem dimensões,

Como os caracóis têm suas casas,

Responder-me-á o lume que nos incendeia, com destreza,

Sobre o leito invadido das conchas nacaradas,

Profanadas pelo brilho da incerteza;

Onde me deito, cultivando o anseio de amar,

Como uma pérola que nascerá desse simples grão de areia...

Frases de Fernão Capello gaivota

“E, contudo, não sentia remorso por não cumprir as promessas que fizera a si próprio. ‘Essas promessas são só para as gaivotas que aceitam o vulgar. Quem conseguiu chegar à excelência da sua aprendizagem não tem necessidade desse tipo de promessa.’”

“Quase todos nós percorremos um longo caminho. Fomos de um mundo para o outro, que era praticamente igual ao primeiro, esquecendo logo de onde viéramos, não nos preocupando para onde íamos, vivendo o momento presente. Tem alguma ideia de por quantas vidas tivemos que passar até chegarmos a ter a primeira intuição de que há na vida algo mais do que comer, ou lutar, ou ter uma posição importante dentro do bando? Mil vidas, Fernão, dez mil! E depois mais cem vidas até começarmos a aprender que há uma coisa chamada perfeição, e ainda outras cem para nos convencermos de que o nosso objetivo na vida é encontrar essa perfeição e levá-la ao extremo.”

“Escolheremos o nosso próximo mundo através daquilo que aprendermos neste. Não aprender nada significa que o próximo mundo será igual a este, com as mesmas limitações e pesos de chumbo a vencer.”

“Você tem menos medo de aprender do que qualquer outra gaivota que conheci em dez mil anos.”

“Ao expulsarem-na, as outras gaivotas só fizeram mal a si próprias, e um dia vão sabê-lo, e um dia verão o que você vê.”

“Era-lhes mais fácil praticar altas execuções do que compreender a razão que estava por detrás delas.”

“Temos de pôr de parte tudo o que nos limita.”

“Quebrem as correntes dos seus pensamentos e quebrarão as correntes do corpo.”

“Falou de coisas muito simples – que as gaivotas têm o direito de voar, que a liberdade é própria de sua natureza, que todo aquele que se oponha a essa liberdade deve ser posto de parte, quer a oposição seja motivada por ritual, superstição ou limitação sob qualquer forma.”

“'O preço de ser incompreendido’, pensou. ‘Ser classificado de diabo ou de deus.’”

“– Por que será – interrogou-se Fernão – que a coisa mais difícil do mundo é convencer a um pássaro de que é livre e de que pode prová-lo a si mesmo ao se dedicar a treinar um pouco?”

“Não creia no que os seus olhos lhe dizem. Tudo o que mostram é limitação. Olhe com o entendimento...”

Richard Bach