## DEVANEIOS ##

Não se fala de boca cheia.

O centro do Universo arde

e eu mastigo a Terra com receio.

Úmida, sem humildade.

Tudo desce goela abaixo.

Então seguro o jorro do vômito

para não ver o asco ir ao chão.

Perdão, perdão, por ser tão pouco.

O ôco incomodativo questiona

se dá pra sair do umbigo

e ir à porta da casa, subir o morro,

pagar promessa, sem pressa.

Úmida sim, sem humildade.

Os lábios se abrem vermelhos

e a língua rima com teus lábios

que já nem ouvem meus conselhos.

E enquanto o vinho esquenta, eu esfrio,

estudo o hálito, os dedos e as mãos

que erguem a taça do vinho contra a luz;

e ao mover-se em círculos, seduz.

E o mundo é um sedutor algoz

enquanto vítima, me rendo;

fazendo rap com discurso alheio,

distraída ao que me resta, carro sem freio.

O que importa, se ao passar daquela porta

já não te vejo; sem cio, pelo parque vagueando,

dedilhando o banco vazio sob a garoa.

Pele arrepia, coração contrabando.

Vulcão extinto reclama a nova ordem.

Ciclos se vestem com capas de frio

onde nada faz muito sentido

e até mesmo das horas do dia eu duvido.

(Taciana Valença)

TACIANA VALENÇA
Enviado por TACIANA VALENÇA em 30/03/2019
Reeditado em 31/03/2019
Código do texto: T6611651
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