Sobrevida

Lamento!

Nunca mais pude expressar-me com palavras oriundas do coração.

Lembro, elas eram as minhas melhores ferramentas. Fluíam, ardiam, pareciam chamas!...

Mas eis que surgiu a predominância do silêncio empunhando a bandeira da resignação.

Uma pena! Perdi, por atraso, o tom da canção, aquela bela sinfonia d'alma.

Foi um acidente recente que me deixou um dolorido legado de sequelas...

Incômoda é essa sensação de ter que escolher vocábulos adequados para alguém que, até ontem, tinha a integridade franqueada do meu eu.

É uma medonha rotina, esse ocultar de tristeza, esse faz de conta que está tudo bem. Estranho, também, é ter que o óbvio abafar para, enfim, mostrar a calma desse peito que ama.

A vida segue, a gente não!

O tempo encobre, encasca a ferida, força a cicatrização.

Parece querer necrosar o querer.

Felizmente, há a esperança que me faz perceber que, desse lado, a vigilância do destino guarda e preserva os fragmentos vivos de um residual sentimento.

Sentimento esse, ninado pela solidão nas minhas madrugadas.

Luiz Rodas
Enviado por Luiz Rodas em 23/04/2019
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