Seu Porto

É uma sentença,

talvez mortalha branda,

talvez um copo em desuso,

de vinho-largo.

Mas chega perigosamente

perto da despedida.

O que se pode fazer,

se lateja o bruto e não

mais o lapidado?

O que se pode fazer se

o rumo têm dois caminhos,

nenhuma trilha,

e o indicativo só mostra

ervas daninhas?

O que se pode fazer se

as nossas figuras se apagam,

como o passar da folhinha,

de cor angustiante,

para quem não está

acostumado com

os dias?

E se a vida roda assim

roda assim comigo,

vacila com você,

pois entre dois pares,

um se perdeu

em qualquer caminho.

Não diga que não,

não diga que sim,

vacile na hora imprópria

negue três vezes

para achar seu meio-sol.

E se não existe verdade

não existe mais dor

aos pares,

nem angústias

díspares.

Agora te encontro

no soslaio do vazio:

você pra lá,

eu pra cá.

O que perdemos

perdermos sozinhos,

ganhamos pouco,

porque frutificamos no sonho

dos enviesados.

E se a história conta assim

dois reis, duas rainhas,

um castelo vazio

e um povo com fome

do amor que passou,

da ânsia que dá voltas,

remeia e quer novamente

se achar.

E se há duas voltas

há uma ida;

e neste barco sem rumo,

certamente lá espero no

seu porto !

José Kappel
Enviado por José Kappel em 07/06/2019
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