Disfarce da noite

Tu não conheces meu pensamento

Meus segredos, minha tocante vontade.

Sob esse céu de azul puxado

Nem o bálsamo das estrelas que me vem.

A moça que não conheço e me invoca é à tarde

Um astro de uma cidade, apenas uma cidade,

Sons coloridos das folhas silenciosas

Nuvens clareando o tempo, as eras...

Não conhece nem evoca a canção perdida

Minha inocência, nem meu singelo apelo.

Nem a forma dos gestos esvaecidos

Porque o poema não adormeceu no tempo.

Amanhã haverá novo entardecer...

Nessa droga, nesse choro misterioso,

Nesse orvalho que flui na minha volúpia

Cujo ouro brilha no interior do sol!

Seria a hora da grande lembrança?

A próxima tarde traz outro ser na alma

No frêmito da brisa o olhar perdido no mar

Como salmos de seios apontando o poente...

Mares de gelo cáustico a reverberar à tarde

A vagar plácidas caravelas negras

Castelos de diamante, anjos tranquilos.

No grande espelho vibram sinos de cristal.

À tarde com sua grande calmaria me vê

Instante de alegria em mim mesmo

Beija-me o olhar a criatura que me segue

Afaga-me o cabelo a canção que faz dormir.

Tu não conheces o disfarce da noite

Com suas canções presas nas casas

Ouço tua voz e os sons dos clarinetes

Nas fragrantes escalas cromáticas.

Não conheces minhas palavras de pulsações

Sonho sereno no bucolismo da alma

Rios tranquilos e florestas dormidas

Sobre a visão colossal dos telhados.

Es tu o prever da tarde, disfarce da noite

Não conhece nem acolhe minhas vontades

A tua calmaria, o teu céu e o teu brilho

São apenas palavras que contigo compartilho.

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 24/07/2019
Reeditado em 24/07/2019
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