Conto de menino

Diziam que a mata densa era assombrada

Lá morava um menino como eu

Punha as mãos em concha e gritava

Era apenas o eco, mas eu nele acreditava...

A noite na cama no menino eu pensava

Sozinho e abandonado na densa mata

Sem abrigo, sem amor, nada para comer.

Eu ficava triste e com muita pena dele

Hoje sei que menino não havia, nunca nasceu

Mais a tristeza até hoje trago no peito meu.

No lugar havia onça que alguém viu

Eu tinha medo que ela o pegasse e matasse

E sem piedade o comesse...

No Almanaque de Jeca Tatuzinho na farmácia

Antes mesmo de ler vi um homem esmurrando

A cara da onça enquanto a outra só assistia

Tudo com cara de espanto, eu gritei: Virgem Maria!

“Conheceu papuda” frase do esmurra-onças

O povo adorava e ia à farmácia pegar seu livro...

Era Jeca Tatu no mato, numa casinha de sapé.

Na pobreza amando sua mulher e seus pálidos filhos

Tristes. Perdi o medo da onça

Decorrei o livro e levei comigo nas andanças

E lia para quem quisesse ouvir.

O livro do Jeca tatuzinho eu lia para a vovó

Que era fiel ao amor. Eu não tinha passado,

Nem futuro, era só presente.

Parado no pasto seguia o voo dos urubus

Era os pontos negros no céu indo atrás de comida

Nuvem no céu azul era o mar da minha Minas Gerais

Cujos campos selvagens não esqueço, jamais.

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 19/09/2019
Reeditado em 22/09/2019
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