Conto de menino
Diziam que a mata densa era assombrada
Lá morava um menino como eu
Punha as mãos em concha e gritava
Era apenas o eco, mas eu nele acreditava...
A noite na cama no menino eu pensava
Sozinho e abandonado na densa mata
Sem abrigo, sem amor, nada para comer.
Eu ficava triste e com muita pena dele
Hoje sei que menino não havia, nunca nasceu
Mais a tristeza até hoje trago no peito meu.
No lugar havia onça que alguém viu
Eu tinha medo que ela o pegasse e matasse
E sem piedade o comesse...
No Almanaque de Jeca Tatuzinho na farmácia
Antes mesmo de ler vi um homem esmurrando
A cara da onça enquanto a outra só assistia
Tudo com cara de espanto, eu gritei: Virgem Maria!
“Conheceu papuda” frase do esmurra-onças
O povo adorava e ia à farmácia pegar seu livro...
Era Jeca Tatu no mato, numa casinha de sapé.
Na pobreza amando sua mulher e seus pálidos filhos
Tristes. Perdi o medo da onça
Decorrei o livro e levei comigo nas andanças
E lia para quem quisesse ouvir.
O livro do Jeca tatuzinho eu lia para a vovó
Que era fiel ao amor. Eu não tinha passado,
Nem futuro, era só presente.
Parado no pasto seguia o voo dos urubus
Era os pontos negros no céu indo atrás de comida
Nuvem no céu azul era o mar da minha Minas Gerais
Cujos campos selvagens não esqueço, jamais.