ETERNA SAUDADE
Sempre o pensei eterno,
imortal.
Meu olhar infantil, inalterado na maturidade,
percebia-o perpétuo, indestrutível.
Homem alto, forte e poderoso.
Seus músculos protegiam-me,
sua voz de barítono mantinha-me calma.
Seus profundos olhos
de ternura azul afastavam meus medos.
Homem seguro, decidido e pai.
Brigas, desavenças na adolescência,
afastamentos, reconciliações.
Emoções e emoções repetidamente vividas
sob o mesmo teto.
Disputei-lhe o amor com mamãe.
Confrontos... religião, política...
Idéias díspares, valores contraditórios,
mas o amor presente na ausência do entendimento.
Partiu!
Sem avisar, de supetão, doloridamente.
Não deu tempo de conversar,
coisas ficaram, palavras calaram,
a voz presa na garganta, na barriga.
O grito que não foi solto, o tapa que não foi revidado.
Você se foi em meio a pontes e túneis desconhecidos.
Espero, quero
o momento do reencontro que se faz urgente.
Apaziguar a saudade impossível.
A cada dia, menos um dia, para o dia em que
nos veremos finalmente.