ETERNA SAUDADE

Sempre o pensei eterno,

imortal.

Meu olhar infantil, inalterado na maturidade,

percebia-o perpétuo, indestrutível.

Homem alto, forte e poderoso.

Seus músculos protegiam-me,

sua voz de barítono mantinha-me calma.

Seus profundos olhos

de ternura azul afastavam meus medos.

Homem seguro, decidido e pai.

Brigas, desavenças na adolescência,

afastamentos, reconciliações.

Emoções e emoções repetidamente vividas

sob o mesmo teto.

Disputei-lhe o amor com mamãe.

Confrontos... religião, política...

Idéias díspares, valores contraditórios,

mas o amor presente na ausência do entendimento.

Partiu!

Sem avisar, de supetão, doloridamente.

Não deu tempo de conversar,

coisas ficaram, palavras calaram,

a voz presa na garganta, na barriga.

O grito que não foi solto, o tapa que não foi revidado.

Você se foi em meio a pontes e túneis desconhecidos.

Espero, quero

o momento do reencontro que se faz urgente.

Apaziguar a saudade impossível.

A cada dia, menos um dia, para o dia em que

nos veremos finalmente.

Anália Maia
Enviado por Anália Maia em 06/11/2005
Código do texto: T67936