Abraços que chegam

Não é tão sombrio assim

Isolar-se socialmente

Afinal

Quase sempre estamos

Quando seguimos com fones de ouvido

Quando seguimos sem partilhar

Sem ver

Sem participar

Quando penso em ti

Oh, rua!

E por telas te vejo e escuto

Se fico dentro do muro

Que eu mesma construí

Trazendo para cá coisas importantes

Movimentando móveis para lá e para cá

Vejo-me com mais calma no espelho

Espanto com o riso fácil e brilho no olhar

Santa esperança

Ainda reina

Sinto todo mundo perto

Estou aqui, revendo meus atos

Minhas palavras

Fragmentando-me

Para que cada parte chegue aí

Fragmentando-me nestes dias

Que sofrimento haveria

Ter que conviver consigo mesmo?

Ensaiando ao som da empatia

Oh, adorável rua!

Adoráveis livres passos

Aonde meu corpo encontra outros corpos

Aonde materializo o virtual

Aonde podemos dividir bancos

Apertos de mãos

Gostamos mesmo de estar perto

Este gostar é tão quente

Que meu abraço

Pode chegar aí

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 22/03/2020
Reeditado em 19/06/2020
Código do texto: T6893740
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