Batendo Saudade

O tempo escureceu bruscamente...

Os ventos galantes,

Zumbiam nos meus ouvidos,

Trazendo imensa e imbatível saudade...

Soletravam, visivelmente, aflição...

E aflito, procurei sentir o que a dor me alertava...

Sim, respondi ao coração, sim...

Resta-me apenas recordar, junto a esta tempestade,

Que abate cidades...

Atar semelhanças e deixar que desvaneça.

Nosso romance foi grande tempestade...

Um temporal, cobrindo as nossas vistas,

Varrendo purezas e sonhos que pareciam reais...

Um de nós errou e uma pergunta, flutua por aí,

Com a esperança camuflada,

Na procura de quem foi o culpado...

Nossas vidas uniram-se, como cordas,

Que entrelaçadas, não possuíram as fibras,

E romperam-se, após ferrugens as contaminar...

Um hoje se apagou, igual uma promessa lograda,

Depois dos falsos argumentos, que a isolaram do plano...

Pétalas murchas caem...

Uma após uma se perdem,

Varridas pelos ventos, às distâncias invisíveis de nós...

O escurecer ponteia a tristeza,

Que ora solicitada, felicita o sol que se foi...

Dói meu coração, quem sabe até o seu...

O vento brando que nos refrescava,

Parece irônico: Chama saudade, denunciando a morte...

Ela que já teve má sorte... Regredida...

Agora desponta, sorri, e se faz mais forte...

Olho o horizonte e o que vejo?

Só espinhos que alvissareiros,

Encobrem direções que alvejávamos...

Parece uma selva... Somente silêncio...

Murmúrios da solidão o cadencia para o além...

Não nos faz mais parte, seu encanto...

Foste minha, um dia...

Distante por aí, caminhas...

Nada vejo à frente...

A nebulosidade cerca todo o espaço,

Que um dia ousei trafegar...

Ouço sorrisos do nada...

Alguém, por nossa separação...

Nossos sentimentos, permitiram este acontecer...

Por minha ou tua... Não sei...

Há sempre um perdedor...

Neste momento chuvoso, indago-me com saudade sem fim:

Para quem são os risos?

Que não sejam para mim...

Quando se ama e separa-se abruptamente, é preferível perder,

Do que levar para sempre,

A marca de um assassino sentimental...

Destrói uma vida inteira e a consciência apelará para o remorso...

Hoje não brilha mais o sol, como naquelas manhãs,

Em que via nos seus sorrisos, o verdadeiro enternecer...

Hoje não vejo naquela lua, o luzir que clareava nossas noites,

Envolvendo-nos nas nossas madrugadas...

Hoje não sinto mais na rosa, o aroma em que te figurava...

Quando vinhas em meu encontro, seu perfume estava nos ares,

Nos cantos em que eu te imaginava e sonhava acordado,

Por sê-la minha, de mais ninguém...

Consultava-me diante de uma afirmação: Não,

Se no verdadeiro Amor, poderia existir um fim...

Mas a infantilidade do pensar, não acreditava que o destino é traiçoeiro...

Prega-nos surpresas indefiníveis pelo universo...

Hoje estou só...

Como o Sol está só...

Como a lua está só...

Envolto neste escurecer brusco, tentando reconstruir esta história,

Da mais pura fantasia, da falsa magia: O nosso Amor...

Ei-lo desassociado da nossa meta...

Ei-lo perdido e navegador...

Busca encontro, quem sabe, de duas almas indecisas e temerosas,

Refugiando-se nos prantos e nas fuligens das saudades...

Nas lembranças, tendo como coluna, as paisagens de um enorme temporal...

Ei-lo assobiando e se indo,

Num adeus longo, molhado e premeditado....

José Corrêa Martins Filho
Enviado por José Corrêa Martins Filho em 15/11/2021
Reeditado em 09/05/2023
Código do texto: T7386268
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