Dor fantasma

Se eu soubesse que aquele abraço contigo

seria o último,

eu teria te apertado um pouco mais;

teria sentido seu perfume por mais tempo,

até que ele se infiltrasse por definitivo

na minha memória;

teria tentado te capturar

com a câmera dos meus olhos,

e teria te feito minha.

Apenas minha.

Não teria deixado o destino correr seu curso cruel

e ter te feito escapar dos meus dedos

como se o meu próprio destino

não fosse bem do teu lado,

ignorando tudo o que o malvado

atirasse em minha direção.

Se eu soubesse que nunca mais poderia te ver...

eu odeio pensar que foi a última vez,

eu nunca quis uma última vez com você,

eu te queria para sempre,

nascer do sol ao anoitecer,

milhares de voltas ao redor da Terra,

dezenas ao redor do Sol,

por quantas vidas te encontrasse

e te fizesse se apaixonar por mim,

como quase fiz nessa.

Eu sempre tentei ser pontual,

sempre tentei chegar a tempo

e ganhar tempo,

mas tempo foi tudo o que eu não tive com você.

E agora sinto falta de uma parte de mim

que nunca mais poderei ter,

e me dói,

mas não há nada que eu possa fazer.

Não há seu reflexo no espelho,

eu não consigo andar direito

e meu sono nunca mais foi o mesmo.

Mas o que mais me assombra

é que não pude me despedir,

e agora vou fantasiar milhares de maneiras

de te deixar ir,

dolorosas, vazias, que vão me assolar o coração,

e ainda te pedirei perdão

por te imaginar numa versão cruel.

Queria ter o poder de te esquecer,

e deixar todo o meu amor no papel.

Queria te gritar que sinto sua falta,

mas não mais te vejo quando olho para o céu.