Poema
Aquela-que-vem
não brilha: cega.
Apaga a retina,
riscando sulcos
no branco do dia.
Levanto um pano:
cortina espessa,
contendo o excesso
sintático, pluvial.
Que peleja infiltrar:
leito d’água em pedra porosa.
E o caminho feito:
de rastro seco.
Árvore, outrora alada,
só a sobra do sonho:
úmida, sem insopar.
Quando sumo,
não deixo perfume,
mas palavras sem dono
e um amor
sem endereço.