Do Moderno Ao Parnasiano
I - sem ela, sou o avesso do que fui
me falta o norte
me sobram passos sem direção
um café esfria na mesa
a manhã passa como se não tivesse nome
as palavras tropeçam na língua
e o coração não sabe mais declamar
os dias, amassados como cartas não enviadas
os sonhos, gastos
como folhas pisadas no chão da rua
me olho no espelho
e não me reconheço inteiro
falta luz
falta ela
e tudo grita em silêncio
como se até o tempo soubesse
que algo precioso saiu do lugar
II - quando ela chega, tudo se ajeita
E quando enfim teu brilho me visita,
O caos se curva à tua direção,
És sol que a minha noite precipita
Em alvorada plena de oração.
Teus gestos, fina arte em porcelana,
Tuas palavras, música de abril,
Teu riso é canto puro de cigana,
Que desfaz no ar qualquer anil.
Contigo sou poema em ritmo e verso,
Sou obra enfim moldada pela mão,
Sou templo, fé, constância no universo,
Sou girassol fiel em devoção.
Pois és a luz que acende o que sou feito,
E amar-te, meu amor, é o que me endireita o peito.