De Tanto Amar-te

Teus cenários tocam meus olhares

Enquanto florescem silêncios em meus lábios

Para te sentir é preciso que me dispa das palavras.

Bebo da doçura da cumplicidade que contemplo

Refletida no leque de cores que me abres.

Colho o sol da tarde, a música do mar

E o cheiro de poesia que anuncias

Na concha rumorosa das tuas mãos.

Detenho o desejo da proximidade

A chama dos impulsos e desassossegos.

Deito um sorriso nas asas do dia

Que voa para além do horizonte.

O último raio de sol, feito pombo correio

Parece te levar o gosto de malvasia

Com que vesti os beijos meus.

Estendem-se meus dedos, tal qual aragem

Como se pudessem envolver e alcançar

A nudez dos teus encantamentos.

Há uma urgente ternura a caminhar

Alinhando o ritmo do meu coração ao teu.

Selo a contração do dizer-me

Dobro o estremecimento do sentimento.

Sustento gestos, detenho as aflições,

Ainda que escorram das minhas mãos

Rios de carícias, oceanos de emoções.

Guardo as auroras que anseiam descerrar

A noite que cobre os olhos teus.

Resigno meu sentir às fronteiras do silêncio

Casso o passaporte das confissões

Dos tantos afagos, cheiros e sabores

Que habitam a pátria dos meus sentidos.

Como fazê-los compreender que tua pele

É ainda terra distante, caminho estrangeiro?

Meus passos viandantes apenas dedilharam

Os corredores e desvãos da tua alma.

Um dia, quem sabe, rebele-me

Desencontrada de qualquer silêncio

Liberta das muralhas da hesitação

Insubordine-me de qualquer contenção

Delatando minha sede em tua boca

Será então, tempo de abrir mares

Desancorando este amor desmedido.

É que sempre foste bússola

Cruzeiro do sul, rosa dos ventos

A guiar o destino do meu peito.

É que sempre foste meu encontrar

Com o pulsar de qualquer sílaba

Entoada pelos lábios da vida.

© Fernanda Guimarães

Fernanda Guimarães
Enviado por Fernanda Guimarães em 27/03/2008
Reeditado em 25/08/2008
Código do texto: T918561