Sinfonia de Um Poeta Em Silêncio

Palavras mudas

Num recital de silêncio

Onde o som não vibra

Ondas repetidas de amor

Sem palavras que definam

Lacônicas

Carregadas, imensas, imersas.

Sentimentos

No vazio preenchido

No impulso desmedido

Palavras afônicas

Que se remansam no peito doído

Do poeta com olhar distante

Lá no horizonte avermelhado

Sentado com um pedaço amassado de papel riscado

preenchido por letras garranchadas

Como ervas daninhas que sobem as paredes

E mudo como o silêncio

Olhar vazio

De quem perdeu

Ou nunca teve

O amor recitado

Nos garranchos daquele papel

O poeta se ergue

Caminha em sua varanda

Respira

E deixa cair no chão seus garranchos

Com a mesma mudez que ele os escreveu

Na sinfonia silenciosa

Do seu mais íntimo pensamento

E a poesia se perde

Junto às macegas tão secas que estalam com o vento

Que de tão quente faz rachar até o último sentimento

Do poeta perdido em seu silêncio

PUBLICADO NO LIVRO ANTOLOGIA ESCRITORES BRASILEIROS EDIÇÃO 2006, PÁGINA 121.

Priscilia Nascimento
Enviado por Priscilia Nascimento em 06/01/2006
Reeditado em 06/01/2006
Código do texto: T95220