Procura (com Florbela Espanca)

Uma vez mais continuo sozinha

em minha caminhada.

Muitos amigos procurei,

muitas línguas provei,

mas continuo sozinha

mergulhada em minha solidão.

O mundo é cruel,

e não quer partilhar

das suas aventuranças!

Só me faz companhia a poesia

esta nunca me abandona,

e está sempre em conluio

com a minha inspiração.

O que me resta é a esperança

de um dia poder encontrar

uma boa companhia.

Por enquanto vou usufruindo

da alma bela poesia

e contando com a sorte

da minha compreensão.

Compartilho desta agonia

com a querida Florbela Espanca

que muito chorou a tristeza

de nunca ter encontrado

em sua terna existência

o aconchego de uma paixão.

(Jamais extinguiu a frieza

de uma presença vazia

que iluminasse seus dias

e aquecesse seu coração.)

Karina Aldrighis

“O Meu Condão”

“Quis Deus dar-me o condão de ser sensível

Como o diamante à luz que o alumia,

Dar-me uma alma fantástica, impossível:

- Um bailado de cor e fantasia!

Quis Deus fazer de ti a ambrosia

Desta paixão estranha, ardente, incrível!

Erguer em mim o facho inextinguível,

Como um cinzel vincando uma agonia!

Quis Deus fazer-me tua... para nada!

- Vãos, os meus braços de crucificada,

Inúteis, esses beijos que te dei!

Anda! Caminha! Aonde?... Mas por onde?...

Se a um gesto dos teus a sombra esconde

O caminho de estrelas que tracei...”

Florbela Espanca (1894-1930) em "Charneca em Flor"

Mais em http://pt.wikipedia.org/wiki/Florbela_Espanca

Karina Aldrighis
Enviado por Karina Aldrighis em 06/06/2013
Código do texto: T4328326
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