ODE À LUZIA

E agora Luzia?

Sinto-a como uma Maria!

Qual Drummond poetou:

Gente que não nos deixou...

Dentre tantos Josés

Que ele nos figurou

Sem nenhuma alegria

Qual o fogo que apagou.

Mas sempre continuou...

Sua vida, Luzia?

Pelas terras longínquas

Você caminhou

Com seus pés tão descalços...

Que ninguém acolheu

Nem o que prometeu!

Percorreu os percalços

Das promessas dos falsos...

E ilustrou todos atos:

Do que nunca viveu.

Quem lhe socorreu?

Você até que queria,

Isso eu sinto, Luzia!

Não o fogo da orgia

Que a terra fumegou.

Só queria a iguaria

Duma cidadania

Que ninguém lhe plantou.

Carregou pelo ventre

Geração de carentes

Que ninguém acolheu.

Gente assim

Como a gente,

Como todos que somos...

Como eu e você

Que chora, que sente...

Que também se ressente,

Que carrega no peito

Coração dentre as redes

Do que apodreceu.

Gente que não arrefeceu.

O que lhe aconteceu...

Você sente, Luzia?

Só carbonização

Pela corrupção.

Qual um tempo moído

E em ferro fundido.

Nos levaram o legado

Depois de registrado

E tão bem declamado...

Verso de boa intenção.

Nosso Karma, Luzia!

Não, tal não é fantasia!

Nossa antropologia

Transformada em magia!

Você se nos transfigurou!

Qual poesia alquimia

Que lhe escapa das veias...

Que transforma suas trilhas

Todas mumificadas

Em vida alvissareira...

Em estrofes tranquilas

Você é resisitência!

Toda resiliência...

De rimas ressuscitadas.

Qual a toda carência

Você é vida alvejada.

Você é verso sentido

De todo abandono

Verso de carbono!

Todo já renascido

Que já pode gritar...

Você é dura metáfora!

Pura aliteração,

Sôfrega sonorização:

Só sofrida emoção.

Você é Fênix, Luzia!

Você é como nós!

É nossa porta-voz!

Desta terra sofrida

Que não foi adubada.

E que hoje é rogada

A novo voo a alçar:

Vamos acreditar.

Nós podemos Luzia!

Renascemos das cinzas

Todas maquinadas

Pelas nossas estradas.

Você é Ode Luzia!

Faz poesia aos nãos

Ao que morre no chão...

Bulhas em prontidão,

Do que escorre das mãos

Pelos tempos em vão.

Sequer teve um dia

O tudo que queimou

Nada a si desfrutou...

Objeto cortante

Duma vida sangrante

Construída no breu...

Do desumano museu.

Você é o improvável

Do que sobreviveu!

Você é a Heroína

Desta vida vazia

Que não lhe protegeu.

A mulher aguerrida

Prometida à vida

Do seguir adiante

Num palco fumegante.

Qual um gene da História

Una e ungida de glória

Que ninguém conheceu.

Da História negada

Sempre fantasiada

A esconder nosso breu.

E agora, Luzia?

Você é a alegria

Você nos retornou!

Em metáfora lírica

A ensinar que a poesia

Nunca é inventada

Sempre é sacramentada

A gritar suas vozes

A todos seus algozes.

Só mais uma Luzia

Que também foi Maria

A que tudo ergueu...

Sem nunca ter apogeu...

Hoje o verso é seu!

Embora também seja meu.

Você é tempo bem-vindo

Milagre ressurgido,

Da consciência queimada

Hoje vivificada...

E agora Luzia...

Você é luz luzidia!

Recivilização,

Ao tudo que afligia...

Gente em comunhão.