A Amazona

Este poema foi originalmente publicado no Recanto das Letras em 17/12/2016 e hoje é republicado com o acréscimo da bela parceria de Denise Matos e sua crônica "Reponte".

A AMAZONA
Miguel Carqueija


Sobre a minha montaria
mantenho a rédea na mão;
aproveito bem o dia
montada em meu alazão.

Cavalgar é minha vida,
é bem minha natureza;
é minha sina querida
e vou longe com presteza!

Quando eu passo ouço falar:
— Olha que linda donzela
com o cabelo a esvoaçar
majestosa sobre a sela!

E ouço do Rocinante
forte o seu resfolegar:
meu quadrúpede elegante,
a ti eu só posso amar!


O trote é muito gostoso
mas adoro galopar
em meu cavalo charmoso
numa noite de luar!

É tão fiel animal
o meu lindo Rocinante,
se alguém lhe fizer mal
viro fera num instante!

Sua pata é tão forte,
o seu pelo tão brilhante:
vou te amar até a morte,
meu querido Rocinante!

Você é cor de canela
misturada com açafrão:
mesmo olhando da janela
te ouço a respiração!



Não force muito o bichinho
que o cavalo é quase um santo:
sempre o trate com carinho,
ele é o seu encanto!

Às vezes eu me imagino
como a Sheena a cavalgar
uma zebra, ô desatino!
Onde vou zebra arranjar?
 
Fico então com o cavalinho,
meu Rocinante brioso,
meu tão fofo marronzinho,
tão bonito e tão fogoso!
 
Eu fico tão empolgada
na campina a galopar
com o alazão tão ligada
que me sinto até voar!
 
Às vezes coloco um short
e nem calço o meu sapato:
hei de ser até a morte
uma amazona de fato!
 
Mamãe diz: — Você é louca?
Pra que essa correria?
— Mãe, coragem não é pouca
e isso me dá alegria!

Eu vivo num mundo à parte
de ferradura e de crina:
como posso não amar-te
quando estamos na campina!
 
Você me leva nas patas
tão longe quanto eu quiser;
nas colinas, pelas matas,
lá vão cavalo e mulher!
 
21/9/2016





Reponte
Denise Matos

 
Domingo no Sul é dia de se reunir com os amigos, dia de muita churrascada, e claro, cavalos.
 
Então no centro de eventos da RS 118, local onde acontece a conhecida Ronda Crioula, nos reunimos à confraternização de um dia ensolarado.
Dia lindo, boas companhias, tudo ocorrendo perfeitamente bem, até que avistei um Quarto de milha, e pensei – Por que não ? Faz tempo que não faço merda !
E foi assim que decidi montar o corredor. Que bela idéia! Que ideóta!
Sequer me encontrava "pilchada", mas o montei, e nisso o dono diz - Esse cavalo é temperamental ! E claro que a pessoa aqui, se sentindo uma super amazona, respondeu com a famigerada frase - Tá dominado ! - Nesse instante tive certeza - Vai dar merda !
 
De rédeas à mão, parti pro redondel.
 
O cavalo se comportou bem, aceitou os comandos, enfim, estávamos a nos entender. Até que tive outra "ótema" idéia - Vou sair com o cavalo do redondel.
 
O lugar era enorme, muito para explorar, e Reponte e eu ( Reponte é o nome do cavalo ), já estávamos familiarizados - foi o que pensei.
 
Tempos depois, após muitas voltas, ( tudo sob controle), um comando errado e pronto, perdi a doma !
Um único movimento errado e o cavalo era outro ! - Reponte, meu amigo, faz isso não... menino, aceita os comandos ! - Eu dizia para o animal ( automaticamente pensando que naquele momento, após o comando errado, para o bicho o animal era eu ).
Foi quando o dono do cavalo passa de carro à minha frente e pergunta - Como está ? E respondo - Tudo tranqüilo ! O carro acelera, e o cavalo liga o piloto automático. [ O intuito se profetiza ]. Do trote para o galope, dois segundos de diferença. Levantou poeira e as crinas ! ( mais as minhas do que as dele ).
A pessoa que não estava sequer de botas de montaria, mas de sapatilhas fofas com motivos de unicórnio, sente perder um dos estribos, e com o cavalo agora a galope, quem diz de achar ?
 
O filho do dono do cavalo, monta às pressas um crioulo e sai em disparada para me amadrinhar.
Momento crítico ! Que paleteada !
 
Durante a paleteada, acabei por escoriar o joelho na encilha do outro cavalo, nada grave, mas que poderia ter sido evitado se estivesse com calça de montaria ou bombacha feminina, mas não, a pessoa estava de short jeans, sim, pedindo pra se esfolar inteira, o que não aconteceu graças ao amadrinhador.
 
Hoje, passado o susto, confesso que não vejo a hora de montar o Reponte novamente. Sinto que ainda teremos muitas aventuras rs.
 
E nunca uma música fez tanto sentido quanto agora :
 
" Amadrinhador "
 
Quem pensa que em si se basta não conhece o mandamento
Não hay tormenta sem vento e nem cambona sem alça
Uma guampa sem cachaça, cabelo negro sem flor
E nem tropilha machaça sem ter bom amansador
 
Se o potro baba a flechilha, da própria sorte se olvida
Como se embaixo um mandinga viesse apertando as virilhas
Num transe de vida e morte, o bagual e o domador
Tem anjo de guarda e sorte nas mãos do amadrinhador...
 
( Luiz Marenco & Sergio Carvalho Pereira )





Denise Matos :
Nasci em Porto Alegre, resido atualmente em Gravataí R.S.
Escritora amadora participei de algumas antologias pela editora Celeiro dos Escritores de São Paulo, e sigo escrevendo no Site Recanto das Letras.
 
Nasci para as desimportâncias,
Não desejo um lugar ao sol,
Apenas o frescor de escrever em asa
À sombra de uma borboleta .
 


(imagens 1 e 2, das amazonas e seus cavalos: pixabay; fotograma do filme "Sheena, a rainha das selvas", atriz Tanya Roberts e uma zebra, internet)
Fotografia de Denise Matos gentilmente cedida por Denise Matos.