Minha mãe era uma cobra

Rastejava pelo asfalto,
com as duas pernas mortas,
e o resto do corpo surrado e cansado.

Quando evoluía, usava muletas,
sorria, chorava, debochava da vida.

Minha mãe-cobra defendia as crias,
era loba, era onça, era bruxa.

Minha mãe-cobra, quando melhorava,
andava de cadeira-de-rodas,
empurrada por mim, por meus irmãos.

Ela era guerreira, lutadora, honesta.
Sua valentia jamais fraquejou,
nunca se abaixou para a opressão.

Minha mãe-cobra tinha asas,
voou para o vazio, para o além,
de onde vela por mim, Amém!
Valdeck Almeida de Jesus
Enviado por Valdeck Almeida de Jesus em 23/02/2021
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