Ária da véspera

Meu amanhã chegará,

como este sol exausto que se despede num racimo de poesia!

Virá, montado na quieitud de uma sombra

abrindo sua fila de pavão à elegia da cotovia

e também a saudade trará, das pétalas de teus dedos

em minha roseira escorregando mudamente,

gotas de lua misturadas com sémen,complô de luxúria,

levando-me do planeta pétreo para a galáxia de murmúrios

e teu cheiro de fruto enamorado.

Para acordar-me, o amanhã terá

que me desprender de teus desejos insaciáveis,

nascendo e multiplicando,ávidos e perfumados;

desentranhar-me de tuas raízes de cedro,

que ambrosia odorosa inclinada me encolho

e terá, por fim,

que me desafogar do fluxo e refluxo de tuas marés,

que deixei me tragarem.

As estrelas adormecidas se molham de beijos adoçados,

que vertem nossos corpos frouxos,

rios e rócios diferentes, vigilantes que jamais dormem,

porque quando o amanhã chegar,

este dia terá sido pequeno demasiado

para nosso dilúvio de balbuceos,inexorável,

de tão delirante e irresistível.

Quis para nós, todo o punhado de encantos

que gera um dia: o hálito das gotas dos pinheiros,

a fúria das borobulhas tropicais,

a surpresa desenfreando a certeza,

uma beira na asa do silêncio...tudo, bem amado,

que talhasse tua silhueta nas dunas

e até esquecer-te eu quis, para ter o que recomeçar,

esticando a linha do horizonte

para eternizar o tempo de amar-te.

Santos-SP-04/02/2007

Inês Marucci
Enviado por Inês Marucci em 05/02/2007
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